segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Dicas de português - Redundância é defeito de construção

Por Thaís Nicoleti

"Aparentemente elas parecem fugir ao acaso, mas experimentos mostraram que há estratégia por trás das rotas de fuga."

O assunto da reportagem de que foi extraída a frase são baratas - e, como podemos perceber, a expressão "barata tonta" parece não corresponder à verdade sobre o comportamento desse asqueroso inseto. Suas rotas de fuga, segundo experimentos científicos, obedecem a uma estratégia.

Muito bem. A questão lingüística que aqui nos interessa diz respeito à semântica. O advérbio "aparentemente" e o verbo "parecer" têm o mesmo radical e significados extremamente próximos. Em outras palavras, é redundante dizer que alguma coisa "aparentemente parece...", como fez o redator, num excesso de zelo ao retratar a trajetória dos blatários, que, de resto, nada tem de acidental.

Essa superabundância de termos (ou "pleonasmo") é desnecessária num texto informativo, por isso considerada, nessa situação, um defeito de construção frasal.

Em textos poéticos, o pleonasmo pode criar belos efeitos estéticos - e não é outro o caso dos conhecidos versos camonianos: "Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito
(Se de humano é matar uma donzela,/ Fraca e sem força, só por ter sujeito/
O coração a quem soube vencê-la),/A estas criancinhas tem respeito,/ Pois o não tens à morte escura dela;/ Mova-te a piedade sua e minha,/ Pois te não move a culpa que não tinha".

Voltando às baratas, bastaria ao redator empregar um dos dois termos indicadores de característica aparente. Assim:

Elas parecem fugir ao acaso, mas experimentos mostraram que há estratégia por trás das rotas de fuga.

Aparentemente elas fogem ao acaso, mas experimentos mostraram que há estratégia por trás das rotas de fuga.

Um abraço,
Thaís NicoletiFonte: http://educacao.uol.com.br/dicas-portugues/ult2781u850.jhtm


Nenhum comentário: